domingo, 18 de abril de 2010

"Deixa eu brincar de ser feliz"

Já era hora do sol se despedir e deixar a luz da noite brilhar nos olhos e sorrisos do povo alegre e eufórico, que pulava e cantava esquecendo a realidade e problemas. Ao sair naquele carnaval, sozinha e desesperançosa, Verônica, com seus curtos cabelos negros, que deixavam sua nuca à mostra, e seus fundos olhos verdes, cantava e acompanhava a batida da marcha que era tocada pela banda do bairro.
No meio da multidão fantasiada, Verônica avistou um homem de aparência muito feliz, com um enorme sorriso, vestido e pintado de palhaço, alegrando as pessoas fazendo
malabarismo com bolas coloridas. Verônica se aproximou, juntou-se ao grupo de pessoas que o observava e parou na frente do homem, que ao perceber sua presença, deixou todas
as bolas, com as quais divertia as pessoas alí, cairem. Uma das bolas, a de cor laranja, rolou até o pé dela, que ficou parada. O homem abaixou-se para pegar o que lhe pertencia e quando se pôs de pé novamente, se encantou com os olhos da moça. Verônica ficou séria, olhando o homem que a olhava e deixou-se soltar um sorriso tímido para o Palhaço malabarista.
O homem pegou a bola e se afastou para continuar o que fazia antes de ser tomado pelos olhos de Verônica. Ela, sentou-se em um banco próximo dalí e ficou observando-o por um tempo. Ficou lá até todos irem para suas casas. Quando não havia mais ninguém, o homem guardou suas coisas e caminhou em direção ao banco. Com voz de encanto e adoração, disse à Verônica:
- Boa noite. Não vai descansar?
Verônica, tentando fugir de si mesma e de dizer que estava lhe esperando, respondeu:
- Gosto de olhar as estrelas quando a cidade se apaga.
O homem pediu para lhe fazer companhia e se apresentou. Otávio, era dois anos mais velho que Verônica, não era da cidade. Após se apresentar, levou-a para baixo de uma árvore, de onde se via muito bem a lua.
Durante todo o resto dos dias de carnaval, quando a cidade dormia, os dois se encontravam embaixo da árvore. Os dois, com os dias, foram se apaixonando e Verônica aguardava ansiosamente a próxima noite. Porém, o que Verônica esqueceu-se de perguntá-lo foi de onde ele era. Otávio fazia parte de um circo que durante os carnavais ficava de parada naquele bairro. E depois partia. Ele não a contou para poupá-la e não acabar com a magia dos encontros.
No último dia de carnaval, Verônica foi até a árvore mas Otávio não estava lá; já estava de partida. Verônica, confusa, foi para casa sem saber o motivo da ausência. Ao chegar, encontrou uma caixa na sua porta. Abriu. Havia uma bola laranja e um bilhete dizendo:

"Verônica, 'Todo carnaval tem seu fim'. Retorno no próximo para pegar minha bola. Espere por mim... com carinho, Otávio."